PEC da Blindagem: o alerta de Lewandowski sobre o risco de infiltração do crime organizado na política

Ricardo Lewandowski

A recente aprovação da chamada PEC da Blindagem pela Câmara dos Deputados reacendeu um debate urgente sobre democracia, segurança e o futuro da política brasileira. O texto busca ampliar a imunidade parlamentar, mas gera polêmica. Segundo o jornal O Globo, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, alertou que a medida pode abrir brechas perigosas para a infiltração do crime organizado nos parlamentos.

O que está em jogo é mais do que uma mudança constitucional. O tema coloca frente a frente dois princípios fundamentais: a independência parlamentar e a igualdade perante a lei. E, no meio desse embate, surge a ameaça real de fortalecimento de facções que já controlam setores inteiros da economia e ameaçam a estrutura política do país.

Imunidade parlamentar ou impunidade?

A imunidade parlamentar é um dos pilares da democracia. Ela garante que deputados e senadores exerçam seus mandatos sem receio de perseguições judiciais ou políticas. No entanto, a PEC da Blindagem amplia essa proteção a ponto de dificultar investigações e ações penais contra parlamentares.

De acordo com o O Globo, Lewandowski afirmou que crimes comuns não podem receber cobertura constitucional. Ele ressaltou que a imunidade não deve se transformar em escudo. Quando isso acontece, o princípio de isonomia perde força, e a sociedade percebe que políticos passam a se colocar acima da lei.

Esse cenário cria riscos evidentes. Políticos ligados a facções podem usar o mandato como proteção, dificultando punições e fortalecendo redes ilícitas. Além disso, a população começa a enxergar o Congresso como uma instituição preocupada mais em se blindar do que em representar os cidadãos. Por consequência, a confiança nas instituições democráticas diminui.

Portanto, a crítica vai além da letra fria da lei. Ela questiona a legitimidade de um sistema que protege alguns e deixa outros expostos. Quando a imunidade se confunde com impunidade, abre-se espaço para distorções graves que corroem o próprio conceito de democracia.

A presença do crime organizado na economia

O problema não se restringe ao Parlamento. Em entrevista ao O Globo, Lewandowski explicou que facções criminosas já se infiltraram em setores estratégicos da economia, movimentando bilhões de reais por meio de operações lícitas e ilícitas.

O setor de combustíveis serve como exemplo. Facções dominam postos e distribuidoras, praticam adulteração de produtos e lavam dinheiro em larga escala. O transporte público, a construção civil e a coleta de lixo também aparecem na lista de áreas vulneráveis. Esses setores, altamente dependentes de contratos com o poder público, oferecem brechas que criminosos exploram com facilidade.

Nos últimos anos, outro ponto chamou a atenção do Ministério da Justiça: as fintechs. Por possuírem regulamentação mais flexível, elas permitem movimentações rápidas e menos rastreáveis. Dessa forma, o ambiente digital se tornou terreno fértil para a lavagem de dinheiro em grande volume.

Lewandowski defendeu uma atuação setorizada. Em vez de combater todas as áreas ao mesmo tempo, o governo pretende identificar vulnerabilidades em cada setor e agir de maneira estratégica. Essa visão reconhece que a força do crime não vem apenas da violência, mas principalmente do dinheiro que sustenta suas operações.

A infiltração no processo eleitoral

Se a economia já sofre com a presença das facções, a política corre riscos ainda maiores. Segundo o O Globo, Lewandowski alertou que grupos criminosos lançam candidatos em cidades estratégicas. Ao vencerem eleições, eles passam a controlar prefeituras, orçamentos e contratos públicos, fortalecendo suas redes de influência.

Esse processo cria um efeito cascata. Primeiro, os criminosos conquistam espaço em câmaras municipais e prefeituras. Depois, avançam para assembleias estaduais e, em alguns casos, chegam ao Congresso Nacional. Se a PEC da Blindagem for aplicada, esses representantes terão ainda mais facilidade para escapar da Justiça.

Os partidos políticos, nesse cenário, possuem responsabilidade central. O ministro destacou que as legendas devem adotar filtros rigorosos, semelhantes ao conceito americano de “Know your clients” — conhecer seus candidatos antes de lançá-los. Caso os partidos ignorem essa triagem, o sistema eleitoral se transforma em porta de entrada para criminosos que buscam legitimação pelo voto.

Portanto, blindar a democracia significa não apenas garantir eleições livres, mas também impedir que facções usem as urnas como atalho para o poder.

Projeto antifacção: medidas em estudo

Diante desse cenário, o Ministério da Justiça prepara um pacote de medidas contra o crime organizado. Segundo o O Globo, Lewandowski afirmou que o projeto — apelidado de “antifacção” — deve ser apresentado em breve ao presidente Lula.

Entre os principais pontos, destaca-se o confisco de bens e ativos financeiros antes do trânsito em julgado. Essa medida retira rapidamente o poder econômico das facções, dificultando sua reorganização.

O projeto também inclui:

  • Endurecimento na progressão de regime para líderes de facções, limitando sua influência mesmo presos;
  • Maior liberdade para infiltração de agentes em facções e em empresas suspeitas de colaborar com elas;
  • Melhor coordenação entre Ministério Público, Polícia Federal e polícias civis, evitando disputas de competência que favorecem criminosos.

Lewandowski deixou claro que não pretende criar uma agência “antimáfia” nos moldes italianos. No entanto, defendeu a integração das instituições como chave para enfrentar o problema.

Assim, o projeto busca cortar o fluxo de dinheiro ilícito, reduzir a capacidade de comando das facções e impedir que elas encontrem abrigo dentro da política.

Um desafio que vai além da segurança pública

O alerta de Lewandowski, divulgado pelo O Globo, mostra que o Brasil enfrenta um desafio complexo. O crime organizado já não se limita às ruas ou aos presídios. Ele ameaça a economia, a política e até a credibilidade das instituições democráticas.

Se a PEC da Blindagem avançar sem ajustes, ela pode acelerar esse processo. A imunidade parlamentar, quando usada de forma irresponsável, se transforma em impunidade. E, nesse cenário, facções ganham não apenas poder econômico, mas também legitimidade política.

Por isso, o combate precisa ser coordenado. É necessário bloquear candidaturas suspeitas, cortar os fluxos de dinheiro ilícito e fortalecer as instituições de fiscalização. Apenas assim será possível proteger a democracia contra a infiltração do crime organizado.

O debate sobre a PEC da Blindagem não se resume a uma disputa jurídica. Ele representa uma luta pela sobrevivência do Estado de Direito. Segundo o O Globo, Lewandowski deixou claro: o Congresso pode buscar sua autonomia, mas não pode se tornar abrigo para criminosos.

O Brasil já enfrenta facções incrustadas na economia e ameaçadas por candidaturas financiadas pelo crime. Se a política oferecer ainda mais brechas, o risco será institucional. Blindar a democracia, portanto, significa reforçar a Justiça e impedir que o crime use o Parlamento como escudo.

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Jean I Dorvilma é o criador do InfoSweet, um portal digital dedicado a trazer conteúdos relevantes e confiáveis sobre saúde, ciência, tecnologia, educação e sociedade. Estudante de Ciência da Computação na Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Jean é apaixonado por inovação, jornalismo digital e impacto social por meio da informação.

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